Os carros com câmbio automático já correspondem a mais da metade dos emplacamentos de veículos novos no Brasil. É natural surgirem dúvidas quanto à operação desse tipo de câmbio e da verdadeira “sopa de letrinhas” que ele traz: por padrão, conta com as opções “D” (drive, termo inglês para dirigir), “P” (park, estacionar), “R” (reverse, ré) e “N” (neutral, neutro). Mas, dependendo do modelo, pode trazer outras funções, como “L” (low, marcha reduzida) e “S” (sport, modo esportivo).
Quando e como o motorista deve utilizá-las? UOL Carros consultou especialistas para esclarecer e também para falar de manutenção. Tudo isso para você tirar o máximo proveito e desfrutar do conforto proporcionado pelos automóveis automáticos sem preocupações.
1 – Use o Neutro só em caso de emergência
Em carros equipados com câmbio manual, o indicado é colocá-lo em ponto-morto ao parar em um semáforo, por exemplo, para evitar o desgaste prematuro da embreagem, que deve ser acionada somente em arrancadas e na troca de marchas. No entanto, com os carros automáticos o procedimento deve ser diferente. De acordo com Camilo Adas, conselheiro de tecnologia e inovação da SAE Brasil, a função “N”, correspondente ao ponto-morto, foi criada para situações de manutenção, quando é preciso rebocar o veículo ou movimentá-lo com o motor desligado, liberando as rodas que tracionam o veículo. “Não coloque o câmbio automático em neutro enquanto você aguarda o sinal abrir. Mantenha na posição “D” com o pé no freio, pois isso mantém o sistema hidráulico pressurizado e permite arrancar com mais rapidez”, ensina o especialista. Vale destacar que alguns carros trazem tecnologia que desacopla automaticamente o câmbio, inclusive com o veículo em movimento, para poupar combustível.
2 – Nunca rode na “banguela”
Outro hábito prejudicial é andar na “banguela” com a expectativa de poupar combustível. A prática não faz o carro beber menos e ainda compromete a segurança, bem como traz risco de danos à transmissão. “Colocar o câmbio em neutro na verdade faz o carro gastar mais combustível do que se estivesse engrenado.
O sistema de injeção é calibrado na fábrica para entrar em modo de baixo consumo assim que você tira o pé do acelerador, com a transmissão em “D”. Isso faz com que o motor receba apenas a quantidade necessária de combustível para mantê-lo girando”, explica Edson Orikassa, vice-presidente da AEA (Associação Brasileira de Engenharia Automotiva).
Especialmente em uma descida de serra, colocar o câmbio em “N” ainda traz risco de acidentes. “Com as rodas de tração livres, você acaba sobrecarregando os freios, que podem superaquecer, perdendo a eficiência”, esclarece Orikassa. Adas complementa: “Deixar o carro rodar em neutro e voltar para a posição “D” com o veículo ainda em movimento pode até danificar uma ou mais engrenagens do câmbio”, alerta o engenheiro.
3 – Utilize freio-motor e a função reduzida
Alguns tipos de transmissão automática permitem fazer trocas manuais, concedendo mais controle ao motorista Imagem: Marcos Camargo/UOL A próxima dica tem tudo a ver com a anterior. Em uma descida de serra, como já dissemos, o correto é manter a transmissão na função “D”.
Além disso, em veículos que permitem fazer trocas manuais, é possível reduzir a marcha. Também há carros com as opções “2” ou “3” no seletor. Adas ensina que esses números correspondem, respectivamente, à segunda e à terceira marchas. “Ao deixar o câmbio na posição ‘2’ ou ‘3’, ele não passa dessas marchas, mantendo o motor ‘cheio’ e reforçando o efeito do freio-motor, ajudando a controlar o veículo na descida”.
Alguns veículos trazem, ainda, a função “L”. “A marcha reduzida também é útil para manter marchas mais curtas e os giros mais altos. É uma função importante para atravessar um lamaçal, para rebocar outro veículo e até quando é preciso transpor uma área alagada, na qual é necessário rodar em baixa velocidade e com rotações elevadas para não deixar o motor ‘morrer'”, recomenda Orikassa.
Alguns modelos também trazem a função “S” para deixar o comportamento do carro mais esportivo. Nessa posição, as trocas de marchas acontecem um pouco mais tarde, com os giros mais altos. Isso melhora a aceleração, porém gasta mais combustível.
4 – Acione a função “P” ao estacionar
Deixe o câmbio nessa posição ao deixar o veículo em uma vaga. Porém, não se esqueça que essa função deve ser combinada sempre com o “freio de mão”. Acione-o e depois selecione “P”. “Ao desligar o motor, cessa a pressão do sistema hidráulico, o câmbio é desacoplado e uma espécie de pino trava as rodas motrizes”, explica Edson Orikassa.
O freio de estacionamento protege essa trava de possíveis danos causados por uma eventual “encostada” ou até batida de outro veículo no seu carro enquanto ele está parado na vaga.
É diferente de quando você deixa um carro manual engatado com o motor desligado. Nesse caso, é o próprio câmbio que trava as rodas e não usar o freio de estacionamento pode causar prejuízo ainda maior.
5 – Fique atento com o óleo de transmissão
Muitos acreditam que o câmbio automático não requer manutenção regular e essa crença pode gerar prejuízos pesados se a transmissão quebrar. Especialmente na configuração dotada de conversor de torque e engrenagens, o câmbio, da mesma forma que outros componentes mecânicos, requer lubrificação.
As especificações e os prazos para troca do fluido são indicados no manual do veículo e devem ser respeitados. A troca do óleo, inclusive, pode ser antecipada dependendo das condições de uso do automóvel. “O lubrificante tem a função de reduzir o atrito e o calor gerado nas engrenagens e outros componentes internos. Com o uso e o passar do tempo, o óleo vai perdendo as propriedades originais e deve ser trocado”, diz Adas.
De acordo com o engenheiro, nos carros atuais os prazos para substituição do fluido são bastante longos, mas não dá para descuidar. “Dependendo do caso, você pode rodar três, quatro anos sem perceber que o câmbio está com falta de lubrificação. Com isso, há desgaste de engrenagens. Qualquer resíduo metálico resultante desse desgaste prematuro, mesmo que de ordem microscópica, traz características abrasivas capazes de afetar borrachas de vedação e retentores, causando vazamento e agravando o problema”.
Fonte: UOL